Revista
Isto É, COMPORTAMENTO,
|
N° Edição:  2175 |
15.Jul.11 – 21:00 |  Atualizado em 17.Jul.11 – 00:08

Por que todos querem
ser trainees

Bons
salários,
chance de crescimento e experiência profissional levam
milhares de jovens a
participar de exaustivos e dificílimos processos de
seleção para iniciar a
carreira em grandes empresas

João
Loes e Paula Rocha

Entre os
meses de julho e setembro, milhares de jovens
brasileiros devem se inscrever em processos seletivos que podem definir
seu
futuro profissional. Sonho de muitos universitários
recém-formados, os
programas de treinamento das principais empresas do Brasil atraem um
número
cada vez maior de candidatos. Segundo levantamento realizado pela Cia
de
Talentos, consultoria especializada no recrutamento de jovens
profissionais, o
total de inscritos nos programas organizados por eles em 2010 variou de
três
mil a 49 mil, dependendo da empresa, contabilizando uma
média de dois mil
candidatos por vaga. Só a Ambev, cervejaria líder
na América Latina, recebeu no
ano passado 72 mil currículos de estudantes egressos do
ensino superior.
Desses, apenas 22 foram aprovados, o que representa mais de 3,2 mil
candidatos
por vaga. Para efeito de comparação, na
Universidade Estadual Paulista (Unesp),
o curso de medicina, um dos mais concorridos do País, teve
em 2011 a relação de
128 candidatos por vaga. 

A acirrada
disputa pelos cargos de trainee das grandes
empresas pode ser justificada pelo salário oferecido a esses
funcionários
(entre R$ 4 mil e R$ 5 mil), valor acima da média nacional
no caso de
iniciantes. Outras vantagens, porém, contribuem para a alta
procura pelas vagas
de treinamento. “O programa de trainee é a melhor
porta de entrada para o
mercado de trabalho”, afirma Noely David, supervisora de
processos especiais do
Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee).
“Esses jovens já entram nas
empresas valorizados, pois passaram por processos seletivos muito
rigorosos.” A
seleção de um trainee dura em média
cinco meses. Nesse período, os candidatos
têm de enfrentar uma maratona de provas, que
começa pela seleção de
currículos.
Depois há a etapa dos testes online, nos quais
são avaliados conhecimentos
gerais, raciocínio lógico e línguas,
geralmente português e inglês. Os que
passam dessa fase são chamados para dinâmicas de
grupo e, por fim, para a
entrevista com líderes ou até mesmo com diretores
das empresas.

O jovem
Felipe Santiago, 25 anos, conhece esse roteiro ao
mesmo tempo exaustivo e estimulante. Ele foi um dos 22 trainees
selecionados
pela Ambev no início de 2011. No último ano da
graduação em propaganda e
marketing pela ESPM, conciliava os estudos e a
realização de seu projeto de
conclusão de curso com o trabalho como analista de marketing
de uma grande
empresa e a preparação para as provas da
cervejaria. “Foi puxado, mas ser
aprovado foi a maior emoção da minha
vida”, diz. Logo que entrou na Ambev,
Santiago conheceu diversos departamentos da companhia, como
produção, logística
e coorporativo. No quinto mês de treinamento, decidiu, junto
com o RH, que
vendas seria sua área de interesse, e passou a atuar nesse
segmento. Agora ele
se prepara para uma viagem a St. Louis, no Missouri (EUA), onde
trainees da
Ambev de várias partes do mundo vão se encontrar
para assistir a palestras,
participar de debates e estabelecer contatos. “Quero crescer
com consistência e
um dia chegar a um cargo de liderança”, diz
Santiago. 

A
recompensa para quem se dedica à
seleção e aos programas
de treinamento é exatamente essa, conquistar um posto
gerencial. “Os processos
seletivos para trainees não são baratos, envolvem
investimentos em divulgação,
seleção e na preparação dos
profissionais”, explica a headhunter Manoela Costa,
gerente da Page Talent, unidade da Page Personnel que faz recrutamento
de
estagiários e trainees. “E um dos objetivos dos
programas é formar os futuros
líderes dessas empresas.” Caso dos presidentes das
indústrias Rhodia do Brasil e
Dana América do Sul, e do CEO da Chemtech, prestadora de
serviços de
engenharia. Os três entraram como estagiários,
passaram pelo cargo de trainees,
e em pouco tempo foram galgando posições
até chegar ao topo (leia quadro
abaixo) na companhia em que começaram. “A empresa
é como um time de futebol que
investe em suas bases”, diz Harro Burmann, presidente da
Dana. “Trazer um
talento custa muito dinheiro. Formar um e retê-lo
é melhor e mais garantido.”

Tal
filosofia é compartilhada pela maioria das grandes empresas
do País. Os trainees da ALL Logística, por
exemplo, são contratados com o
intuito de se tornarem líderes em 12 meses, tempo de
duração do treinamento. A
advogada Nathalia Paschoalli, 25 anos, colhe os frutos dessa
rápida ascensão.
Formada em direito pela Universidade Estadual de Londrina, ela prestou
cerca de
dez processos seletivos para trainee em 2008, mas não passou
em nenhum. No ano
seguinte, decidiu concorrer apenas para as empresas com as quais
realmente se
identificava, e entrou na ALL no início de 2010. Um ano
depois, assumiu o cargo
de coordenadora da área de qualidade. “Fui a
única trainee mulher entre os 17
aprovados na minha seleção”, conta
Nathalia. “Durante o treinamento, atuei na
área de logística coordenando 150 motoristas de
caminhão. Não foi fácil, mas
essa experiência trouxe conhecimento extra para me destacar
no segmento em que
trabalho hoje.”

Transitar
por vários módulos corporativos é uma
vantagem que
os trainees possuem sobre os funcionários comuns, defendem
os especialistas. “O
trainee tem a chance de perguntar, investigar e conhecer a fundo
vários
segmentos da companhia”, diz Daniela Panagassi, coordenadora
do processo de
seleção de trainees da petroquímica
Braskem. “Essa noção do funcionamento
da
empresa é um diferencial que pode ser decisivo no
futuro.” Lição que a paulista
Isabela Avallone, 23 anos, já aprendeu. Enquanto cursava
administração de
empresas na USP de Ribeirão Preto, ela estagiou na
área de novos negócios da
Braskem. “Naquela época, a empresa já
me fascinava, por isso decidi prestar a
seleção para trainee”, conta. Aprovada
no começo do ano, ela agora aproveita ao
máximo todas as informações a que tem
acesso dentro da companhia. “A cada três
meses troco de área e conheço outras pessoas e
departamentos”, diz. “Também
tenho acesso aos líderes da empresa e estou muito feliz com
essa experiência.”

O contato
privilegiado com diretores e presidentes, as
possibilidades de crescimento rápido e consistente, os
salários acima da média
e o prestígio dos trainees são atrativos fortes,
mas exigem dos recém-formados
doses extras de dedicação e flexibilidade (leia
quadro à dir.). “O candidato a
trainee tem de demonstrar que está disposto a trabalhar
além do seu horário, a
mudar de cidade ou até de país”, diz
Manoela, da Page Talent. “Um currículo
acadêmico impecável é comum a todos os
inscritos que chegam às etapas finais. O
diferencial está no brilho no olho, na vontade
genuína de trabalhar naquela
empresa.” Para Isabela Garbers, gerente do programa de
trainee da Ambev, a
identificação do candidato com a cultura da
companhia é fundamental. “O
aspirante a trainee deve mostrar que tem um perfil alinhado ao da
empresa. E
nunca pode estar 100% satisfeito com seu desempenho”, afirma. 

Dicas que a
carioca radicada em São Paulo Andressa Flosi, 23
anos, espera colocar em prática. Egressa do curso de
engenharia ambiental da
Pontifícia Universidade Católica (PUC) de
Campinas, ela está concorrendo ao
Programa Jovens Engenheiros da Mineração Usiminas
2011. “Pesquisei muito sobre
a empresa, estudei a área de mineração
e treinei inglês”, conta sobre sua
preparação. “Fiz os testes online e
agora estou torcendo por uma resposta
positiva.” Se passar nessa etapa, a jovem ainda
terá pela frente as tão
aguardadas dinâmicas de grupo, o painel de
negócios (em que deve solucionar um
case relacionado ao dia-a-dia da profissão), a entrevista e
o teste
psicológico. “Estou confiante e muito disposta a
aprender. Para mim, o programa
de trainee é uma possibilidade de aprender treinando, e
assim me tornar uma profissional
completa.”  

 


1 comentário

Os comentários estão fechados.

AN
× clique aqui e fale conosco pelo whatsapp