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    De tempos em 
    tempos, a unificação dos vestibulares públicos volta ao centro das 
    discussões sobre as formas de seleção para o ingresso aos cursos de 
    graduação. Considerada por uns como uma medida saudosista – remete ao 
    período em que os vestibulares públicos do estado eram organizados pela 
    Fundação Cesgranrio, a unificação já vem sendo apontada como uma alternativa 
    para melhorar o nível do ensino médio. Mesmo assim, a idéia da unificação 
    dos vestibulares federais pretendida pelo Ministério da Educação, continua 
    aquecendo o debate. Educadores e dirigentes educacionais consideram a 
    proposta válida, mas acreditam que é necessário cautela e um debate mais 
    aprofundado sobre o assunto. O ministro da Educação, Fernando Haddad, deseja 
    unificar as seleções de 55 instituições federais de ensino superior e 
    utilizar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como uma primeira etapa 
    nacional. Cuidadoso em suas palavras, o ministro afirmou que, nesse 
    processo, o MEC terá apenas a função de induzir a idéia, respeitando a 
    autonomia das universidades.  
    Presidente do 
    Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (Crub), reitor Gilberto 
    Garcia, da Universidade São Francisco, em São Paulo, considera fundamental a 
    realização de uma seleção única que reúna as universidades federais do país. 
    "É uma idéia muito boa e que chega em momento oportuno". Ele considera que o 
    processo atual de acesso às universidades está caduco. Para o reitor, é uma 
    seleção defasada e que precisa de atualização. "O vestibular está superado. 
    Da forma como está sendo realizado privilegia a memorização dos assuntos e 
    não o conhecimento dos conteúdos. Precisamos de uma substituição urgente. A 
    Europa já está unificada, em Educação, pelo Processo de Bologna e ainda 
    estamos tentando unificar o vestibular das federais. Precisamos sair desse 
    atraso em Educação. Modificar o panorama nacional". E em sua opinião, o 
    modelo do Enem poderia ser adotado como uma alternativa ao vestibular, por 
    ser uma prova mais sólida do que as seleções atuais. Na opinião do reitor da 
    Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Ricardo Miranda, a idéia do 
    MEC ainda é preliminar. "Ainda estamos negociando os moldes, mas é certo que 
    faremos o vestibular de 2010 em parceria com a UniRio. "O problema não é só 
    o vestibular unificado. O mais importante é a reestruturação do próprio 
    exame. Essa é uma concepção que está crescendo dentro das universidades 
    federais", disse.  
    Para ele, o 
    discurso do ministro Fernando Haddad, realizado durante sua recondução à 
    função de reitor na última terça-feira, dia 17,   | 
 
    vai ao 
    encontro da unificação. Segundo ele, Haddad, afirmou que até agora a 
    preocupação era "arrumar a casa", ou seja, melhorar as condições de ensino e 
    a infraestrutura das federais, porém, o momento atual será voltado para a 
    Educação. "O ministro afirmou que está na hora de voltar as atenções para a 
    Educação mesmo. Uma das grandes mudanças mencionadas por ele seria a do 
    vestibular, que praticamente baliza o ensino médio em cima de uma concepção 
    de aprendizado que não é o conhecimento. Atualmente há modelos de exames 
    feitos pelo próprio governo que já vislumbram essa linha". O reitor 
    ressaltou que é importante rever a própria concepção do exame do vestibular, 
    para que seja possível testar a percepção dos alunos por meio do 
    conhecimento de conteúdo. Segundo ele, a parceria com a UniRio surgiu 
    durante reuniões entre as comissões de vestibular das universidades públicas 
    do Rio de Janeiro. "Há uma dinâmica, já bastante praticada no Rio de 
    Janeiro, para agendar os vestibulares de modo que um não interfira na data 
    do outro.  
    Nessa 
    negociação das datas, em conversa com a reitora Malvina Tuttman, avaliamos 
    que fazer o vestibular em que tivéssemos complementariedade seria 
    interessante. Dessa forma, também faríamos a mobilidade dos candidatos que 
    não passaram na Rural, mas que são aprovados em outros cursos. Acredito que 
    vamos conseguir fazer um bom modelo de vestibular, e, mais que isso, haverá 
    a possibilidade do candidato, caso não seja aprovado da primeira opção, ser 
    aproveitado em outro curso. Com isso esse processo será otimizado, e ao 
    mesmo tempo aproveitar todas as vagas disponíveis nas duas universidades". 
    Presidente do Conselho Estadual de Educação (CEE) e reitor da Universidade 
    Castelo Branco, Paulo Alcantara Gomes é favorável a unificação dos 
    vestibulares e concorda com a idéia do ministro da Educação, Fernando 
    Haddad, de utilizar o resultado do Enem na primeira fase do concurso. "O 
    assunto precisa ser bem discutido para não deixar dúvidas. Mas a unificação 
    facilitaria a vida dos jovens vestibulandos que poderiam se livrar de várias 
    provas. O Enem poderia ser usado, mas é preciso avaliar com calma", disse 
    Paulo Alcantara. Segundo o reitor, adoção do resultado do Enem na primeira 
    fase não prejudicaria aqueles que terminaram o ensino médio antes da 
    implantação do exame. "Para estes candidatos haveria uma prova na primeira 
    fase", propõe o educador que também já presidiu o Crub. 
    O 
    ex-presidente do Crub, vice-presidente da Associação Brasileira de Educação 
    em Engenharia e integrante do Conselho Estadual de Educação do Rio de 
    Janeiro, Nival Nunes de Almeida, acredita que esse   | 
 
    assunto 
    precisa ser muito debatido. "É uma questão bastante complexa e que deve ser 
    exaustivamente discutida, primeiro no âmbito da Associação Nacional dos 
    Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e 
    submetida aos conselhos universitários das instituições de ensino superior 
    em respeito a autonomia das universidades. O professor Nival Nunes destacou, 
    ainda, que segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 
    que a universidade tem o direito de escolher o seu aluno e o processo de 
    seleção. "Ao longo desse processo, surgirão diversas dúvidas. Acredito que a 
    logística é muito complicada. A primeira etapa do vestibular será utilizar o 
    Enem? É preciso aprofundar mais o assunto. O governo federal financiaria 
    esse vestibular? Qual seria o perfil do aluno? Como será no Rio? A logística 
    para um exame nacional é complexa. O presidente da Associação Nacional dos 
    Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e reitor 
    da Universidade Federal de Pernambuco, Amaro Henrique Pessoa Lins, acredita 
    que a idéia deve ser mais discutida. "A Andifes está aberta para uma ampla 
    discussão do tema. Vamos falar sobre essas mudanças. Temos que conhecer 
    melhor a proposta para poder dar uma opinião mais concreta sobre o projeto". 
    A história do 
    vestibular – Criado oficialmente, em 1911, o vestibular corre o risco de não 
    comemorar o seu primeiro século de existência. Pelo menos se depender do 
    ministro da Educação, Fernando Haddad. Mas este não é o primeiro adversário 
    que o processo seletivo enfrenta. Desde que foi criado ele já sofreu muitas 
    criticas e passou por mudanças, mas ainda segue como o principal modelo de 
    processo seletivo para ingresso no ensino superior. Em 1911 quado foi 
    instituito, o exame de admissão, que passou a ser chamado de vestibular em 
    1915, era realizado em duas etapas. A primeira era escrita e dissertativa, e 
    a segunda era oral. Esse modelo vigou até 1964 quando foi criada a Fundação 
    Carlos Chagas que implantou as questões de múltipla escolha. O curso de 
    Medicina da Universidade de São Paulo (USP) foi o primeiro a utilizar tal 
    sistema. O número de candidatos crescia vertiginosamente fazendo com que 
    surgisse a necessidade de realização de testes processados em computador, 
    facilitando a correção. Em 1971 foi criada a Fundação Cesgranrio que 
    organizou o primeiro vestibular unificado do Estado do Rio de Janeiro em 
    1972. O processo manteve-se unificado até o final dos anos 80 quando as 
    universidades começaram a realizar concursos isolados. Hoje, existem existem 
    diversas formas alternativas de ingresso.   | 
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