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Empresas aéreas buscam veteranos para expansão 
 
 
Experiência de profissionais com mais de 50 anos é valorizada, 
principalmente em vôos para o exterior 
 
 
Alberto Komatsu  
 
Aos 53 anos, a comissária Maria Cristina Damiani nem acredita 
que acaba de ser contratada para chefiar a equipe de comissários do primeiro 
vôo internacional da OceanAir, para a Cidade do México, em julho. Depois de 
33 anos na Varig, passou pelo pior momento de sua vida profissional em 
agosto do ano passado, quando foi demitida na leva de cerca de 5 mil cortes 
realizados após o leilão da companhia. Pensou que jamais voaria novamente. 
 
 “Fiquei sem chão. Achei que realmente tinha acabado minha 
carreira”, lembra Maria Cristina. A comissária faz parte de um movimento sem 
precedentes na história da aviação.  
 
 Com agressivos planos de expansão, as companhias aéreas 
brasileiras estão trazendo de volta ao mercado profissionais experientes, 
com mais de 50 anos, principalmente para vôos ao exterior. 
 
 Levantamento do Sindicato Nacional dos Aeronautas mostra que 
desde julho de 2006, quando a Varig iniciou demissões em massa, até 28 de 
março deste ano, data da compra da empresa pela Gol, quase 2.500 aeronautas 
(pilotos e comissários) foram absorvidos pelo mercado.  
 
 De abril até o final deste ano, outras 2.700 pessoas que 
integram as tripulações de aviões deverão ser admitidas para trabalhar nas 
34 aeronaves que as três maiores empresas do setor deverão receber este 
ano.  
 
A presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Graziella 
Baggio, lembra que a última vez que viu um movimento parecido de 
contratações foi no início da década de 90. Naquela época, o empresário 
Wagner Canhedo assumia a Vasp. Ele comprou dezenas de aviões e levou a 
bandeira paulista ao exterior.  
 
 Mas a diferença entre os dois movimentos de contratações, 
segundo Graziella, é a grande presença de veteranos nas admissões que estão 
sendo realizadas atualmente. “Os aposentados que poderiam estar desfrutando 
a vida com suas famílias estão sendo obrigados a voltar para o mercado por 
causa da situação do fundo de pensão”, diz Graziella. 
 
 Ela se refere ao fundo de pensão Aerus, que em abril deixou 
de pagar a aposentadoria à maior parte de seus beneficiários. Com o atual 
ritmo de contratações, a sindicalista acredita que poderá, em 2008, haver 
falta de mão-de-obra especializada. 
 
 Uma das alternativas, segundo ela, seria trazer de volta os 
650 pilotos brasileiros que buscaram sobrevivência em companhias aéreas 
estrangeiras O piloto Henrique Topper, de 58 anos, estava trabalhando na 
companhia portuguesa de vôos fretados Euro Atlantic, depois de 33 anos de 
trabalho na Varig. 
 
 Atento ao aquecimento do mercado brasileiro, Topper foi 
contratado recentemente pela OceanAir, que está recebendo aviões modelo 
Boeing 767 para vôos internacionais. Ele concorda que a situação do Aerus 
tem contribuído para aeronautas de mais de 50 anos retornarem ao trabalho. 
 
 
 
Eles procuram trabalho por não ter como se aposentar  
 
 
Situação do Aerus também contribui para o retorno 
“Eu 
sou daqueles que gostam da atividade, mas o resto do pessoal procura 
trabalho porque não tem como se aposentar”, diz o comandante Henrique Topper, 
58 anos, também instrutor de vôo no Centro de Treinamento de Operações (CTO), 
da Varig. Ele diz que usa as aulas para se aperfeiçoar. Jair Duarte, 
gerente-geral do CTO – pertencente à Varig, ainda em recuperação judicial – 
também avalia que a situação do fundo de pensão Aerus contribuiu para o 
movimento de contratações de veteranos.  
 
“Alguns pilotos estão vendo o Aerus definhar e estão retornando à 
atividade”, diz Duarte. Segundo ele, o CTO busca parceiros internacionais 
para ampliar sua capacidade de atendimento. Atualmente, são sete 
simuladores, mas a idéia é obter mais dois, que custam de US$ 12 milhões a 
US$ 15 milhões cada. Por isso, está negociando com empresas aéreas dos EUA e 
da Europa, que têm simuladores ociosos. Duarte explica que a maior parte dos 
equipamentos em empresas americanas não está sendo usada porque apenas 
pilotos americanos podem treinar neles. Essa regra foi estabelecida desde os 
atentados de 11 de setembro de 2001. Por isso, o executivo tenta trazê-los 
para o CTO via parceria. 
 O 
movimento de contratações de pilotos e comissários também está refletindo na 
receita do CTO. No ano passado, com a crise da Varig, o centro chegou a 
faturar R$ 80 mil por mês. Atualmente, a receita mensal é de R$ 1,1 milhão. 
Além de comandantes e pilotos, o CTO também treina comissários.  
 “A 
contratação de veteranos é algo inovador no Brasil, que passa a ter uma 
visão de longevidade para esses profissionais. É uma tendência que já ocorre 
há muitos anos nos EUA”, diz o presidente do Centro Educacional de Aviação 
do Brasil (Ceab), Salmeron Pinto Cardoso Júnior. Este ano o Ceab, escola de 
profissionalização da aviação civil, deverá crescer 26%.  
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