Nova pagina 6

Folha de São Paulo, Mercado, quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

ITA busca voltar às origens e prioriza pesquisa e inovação

Novo reitor, Carlos
Américo Pacheco quer retomar o projeto que tinha o MIT, dos EUA, como modelo

Instituto negocia
parcerias com Vale, Petrobras e Braskem, entre outras, e quer
"internacionalização"

NELSON DE SÁ, ENVIADO A SÃO
JOSÉ DOS CAMPOS

Ao ser criado, em 1950, o
ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) não se limitou a seguir o modelo do
MIT (Massachusetts Institute of Technology), dos EUA. Importou seus professores,
tornou um deles reitor, Richard Smith, e nasceu como parte de uma visão maior
que envolvia centro de pesquisas e fomento à indústria.

Agora um novo reitor,
recém-empossado, Carlos Américo Pacheco, quer retomar o caminho aberto pelo
chamado Relatório Smith.

"Ele desenha o que se chama
de cluster , de arranjo produtivo local. Isso nos anos 40, é uma coisa
impressionante", diz. "Admira-se o que Taiwan fez no Itri (Industrial Technology
Research Institute), mas aqui, nos anos 40, desenhou-se algo agressivo: não só
uma escola de excelência, mas uma indústria."

Pacheco falou à Folha no
intervalo de uma série de encontros com grandes empresas, privadas e públicas,
que quer levar como parceiras para o ITA, a exemplo do que fazem MIT, Stanford e
outras instituições. Entre elas, Vale, Petrobras, Embraer, Odebrecht Defesa e
Braskem.

E sonha com "um passo além",
um laboratório multiusual, não didático por disciplina como os atuais, mas um "innovation
center", como fez o MIT com o Media Lab. Ainda não tem arquiteto, mas o ITA
original foi projetado por Oscar Niemeyer.

Ele quer "despertar a paixão
nos alunos pelos grandes desafios tecnológicos que o país vai enfrentar", quer
"mover o imaginário, para desenvolverem novas empresas, projetos". Prevê
"engajar os alunos logo no início da graduação em equipes que envolvam diversos
anos, pós-graduandos, professores, gente da indústria".

Aos 20, André Luiz Costa
Pereira Filho acaba de passar do segundo para o terceiro ano no ITA. Ele relata
a ansiedade dos colegas pelo contato com tecnologia, "que é ciência em prática",
e diz que "essa vertente do reitor, de tornar a inovar, faz com que tenha apoio
dos alunos", até "causa euforia".

O estudante repete uma
expressão corrente no campus, de que "o ITA foi fundado em 1950 com uma visão de
1980, mas em 2011 a visão é de 2000". O MIT "está anos-luz na nossa frente".

BUROCRACIA E CORTES

Mas o novo reitor não
encontrou só boas-vindas. Sua prioridade inicial é dobrar o número de alunos por
ano, de 120 para 240, e contratar 200 professores -estrangeiros inclusive, como
parte de um projeto de "internacionalização" da escola.

Para tanto, o ITA terá de
construir novos laboratórios didáticos, salas de aula, alojamentos. E Pereira
Filho critica que a simples reforma do alojamento atual atravessou 2011 parada,
perdida na burocracia e nos cortes de verba. O ITA é ligado ao Ministério da
Aeronáutica.

A própria contratação de
professores no exterior, embora a escola tenha nascido com americanos e até
chineses, enfrenta hoje obstáculos, por exemplo, na restrição do acesso ao
campus.

Por outro lado, o ITA é
saudado pela excelência na graduação, mas vê a pós-graduação ficar para trás.
Hudson Alberto Bode, recém-doutorado e no fim do mandato como presidente da
Associação de Pós-Graduandos, cita a baixa publicação.

"Espero que o reitor olhe
mais, realmente, para inovação, pesquisa e desenvolvimento. Quem é que faz
pesquisa? É a pós-graduação." Diz que o discurso indica mais atenção, "mas será
preciso botar na prática".

Novo reitor defende inovação na agenda pública

DO ENVIADO A SÃO JOSÉ
DOS CAMPOS

Formado em engenharia eletrônica
pelo ITA, com doutorado em economia pela Unicamp, onde era professor até ser
escolhido em seleção pública como novo reitor, Carlos Américo Pacheco, 54, foi
secretário-executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia (1999-2002) e
participou da elaboração dos projetos que resultaram na criação de 14 fundos
setoriais e na Lei da Inovação, de 2004.

***

Folha – Inovação é a área a
que o sr. mais se dedica. Qual a visão que tem dela?

Carlos Américo Pacheco 
Inovação passou a ser uma palavra que responde a coisas diferentes, na cabeça de
cada um. Vou me restringir ao sentido econômico. É o que as empresas fazem de
modificação de produto, processo etc. Entre as várias formas de inovação que as
empresas usam está a tecnológica.

Ela é fundamental para o
desenvolvimento, porque grande parte do aumento de produtividade vem daí. E você
não consegue crescimento sustentável sem crescimento de produtividade. O mundo
vai andar problemático, mas o Brasil vai crescer pelo mercado interno, pelos
recursos naturais. Mas o perfil do crescimento pode ser melhor ou pior, se a
gente introduzir a inovação tecnológica nas agendas pública e privada.

Fala-se em divisão dos modelos
de inovação, com maior e menor presença estatal.

No mundo inteiro não há
desenvolvimento tecnológico que não tenha amparo do Estado. Recentemente, numa
visita, o presidente da Boeing disse que não entendia a Embraer, porque a Boeing
não sobrevive sem as encomendas do Estado americano.

Eu vejo dois modelos que
funcionam. Nos EUA, o Estado faz isso com encomendas e atua também na pesquisa
básica, com uma estrutura ímpar. O modelo europeu é feito mais sob a forma de
editais, pesquisa cooperativa universidade-empresa.

O que o sr. recomenda?

O que se recomenda no mundo é um
"blend" dos dois. A gente construiu um sistema parecido com o europeu. Agora,
sobretudo depois da Estratégia Nacional de Defesa, a gente se aproxima de um
"blend", um pouco por causa das encomendas de submarinos, do cargueiro da
Embraer, do satélite.

Leia a
íntegra da entrevista: 



folha.com/no1024728

AN
× clique aqui e fale conosco pelo whatsapp