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    "Existem alguns textos com os quais não precisamos concordar, mas sem os 
    quais não conseguimos pensar. Devemos colocar a serviço da educação dos 
    nossos jovens os textos clássicos de Sociologia e de Filosofia". A fala é do 
    filosofo e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Emanuel Appel, 
    que participou do 1º Encontro Nacional sobre Sociologia e Filosofia, em São 
    Paulo. O encontro teve como principal motivação a inclusão das duas ciências 
    como disciplinas nas escolas brasileiras de Ensino Médio, conforme o Parecer 
    nº 38, assinado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), em julho de 2006. 
    A Sociologia já foi matéria obrigatória entre 1925 e 1942. Depois desse 
    período, várias escolas continuaram com a disciplina, mesmo sendo optativa. 
    Enquanto isso, o governo nunca exigiu o ensino de Filosofia. 
     
    Segundo Appel, a presença das duas ciências no Ensino Médio traz a 
    possibilidade dos professores resgatarem nos estudantes um espírito crítico, 
    que há muito tempo foi submerso pela indústria cultural.   | 
 
     
    "A indústria cultural traz tudo pronto e os jovens na maioria das vezes não 
    discutem. Devemos modificar isso e tanto a Sociologia quanto a Filosofia são 
    instrumentos de questionamento", disse. Para que isso aconteça, o melhor 
    método é levar aos estudantes leituras de primeira mão. "Concordo que não 
    devemos aplicar a bibliografia de graduação no Ensino Médio, mas o ensino da 
    Filosofia não pode ser separado da leitura dos pequenos textos dos grandes 
    filósofos", explicou Appel, dizendo que a regra também deve ser aplicada 
    para a Sociologia. 
     
    Apesar do otimismo de Appel, a situação do Ensino Médio brasileiro não é 
    muito propício para sonhos. "O Ensino Médio vive uma crise de identidade, de 
    eqüidade e qualidade. Uma a cada três escola não tem biblioteca. Faltam 
    professores de Química e Matemática. Apenas 8% dos professores de Física têm 
    formação específica de licenciatura na área", lembrou alguns dados o 
    vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed). 
     
    "É um  
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    desafio monumental", completou. 
     
    "O único dado positivo em relação ao Ensino Médio é que 85% dos jovens estão 
    matriculados em escolas públicas. O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da 
    Educação Básica (Fundeb) pode melhorar a situação, pois incluiu o Ensino 
    Médio na divisão dos recursos. Mesmo assim, devemos observar o passado e 
    verificar o que fizemos de bom e de ruim. O Fundo de Manutenção e 
    Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef) – que antecedeu o Fundeb – , 
    por exemplo, colocou as crianças na escola, mas que escola é essa?", avaliou 
    a coordenadora do Ensino Médio da Secretaria de Educação Básica do 
    Ministério da Educação (MEC), Lúcia Lodi. Mesmo diante de tantos desafios, 
    Appel mantém a posição de que os clássicos devem ser levados aos jovens 
    estudantes. "Vai demorar para observarmos os resultados, mas devemos 
    convocar os alunos para encarar a perplexidade dos conceitos. Não devemos 
    subestimar a capacidade crítica dos jovens estudantes", conclui o filósofo.
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