O desemprego na mínima histórica
Celso Ming | OESP*
Pelo segundo mês consecutivo, o índice de desemprego medido em trimestres móveis ficou em 5,6% da força de trabalho, o mais baixo da história dos levantamentos feitos pelo IBGE.
Não dá ainda para afirmar que o Brasil enverede rapidamente para a situação de pleno emprego. Mas aumentam as queixas de que falta mão de obra em alguns setores da economia, como na construção civil, na agricultura e em serviços acoplados ao agronegócio.
De todo modo, o recorde negativo do desemprego é um resultado instigante, especialmente quando o esperado é que juros básicos nas alturas de 15% ao ano tenderiam a provocar efeito contrário ou seja, retração da atividade e demissão de pessoal por parte das empresas.
Coisas novas estão acontecendo para produzir esse efeito. Aqui vão algumas hipóteses.
A mais mencionada é o resultado da grande transformação no mercado de trabalho produzido pela internet e pelos aplicativos. São ferramentas que vão empurrando muita gente para o trabalho autônomo e para o empreendedorismo, e não mais para a procura de emprego, com carteira de trabalho assinada, cartão de ponto e tudo o mais. Mas este é fator que opera nas duas direções: tanto na da abertura de oportunidades quanto na do fechamento de postos de trabalho. O e-commerce (compras pela internet), por exemplo, vai despejando na rua centenas de milhares de vendedores e de caixas de lojas. Os bancos, por sua vez, fazem de tudo para empurrar para o cliente, por meio dos aplicativos, o trabalho antes feito pelos bancários.
Um segundo segmento que dispensa a procura de emprego é o do trabalho informal. É o daqueles que vivem de bicos ou da prestação de pequenos serviços. Pelos levantamentos do IBGE, corresponde a 38,1% do mercado de trabalho no Brasil, ou um pouco menos de 40 milhões de pessoas. Em alguma proporção, coincide com as ocupações via aplicativos. Pelas avaliações do IBGE, o trabalho informal tende a se retrair lentamente.
Alguns analistas apontam para um terceiro fator que explica a redução do desemprego no Brasil. Trata-se da farta distribuição de benefícios sociais, especialmente do Bolsa Família, que leva muitas pessoas a preferir permanecer em casa e a não procurar emprego. É uma hipótese que vem sendo recebida com desconfiança por setores do governo e pelas esquerdas, por ser percebida como um diagnóstico com viés ideológico que desembocaria na recomendação de redução sistemática desses benefícios. Não há, no entanto, um levantamento sério sobre até que ponto seja este um fator ponderável.
Falta saber até que ponto os juros nas alturas contribuirão para retração do emprego.
*Estado de São Paulo, https://www.estadao.com.br/economia/celso-ming/o-desemprego-na-minima-historica/#:~:text=Pelo%20segundo%20m%C3%AAs%20consecutivo%2C%20o,a%20situa%C3%A7%C3%A3o%20de%20pleno%20emprego., 01/10/2025